domingo, 23 de maio de 2010

CICATRIZES




Olha-me por dentro.
Despe-me.
Sou só uma imensa ferida.
Carne viva, me falta tempo para cicatrizar.
Olha-me sem medo.
Verás apenas uma alma a sangrar.
Corta-me com a fria lâmina do punhal.
Sou apenas mais uma. Mais um corpo.
E agora que estou aberta serve-te à vontade.
Degusta meus desejos.
Arranca meus sonhos.
Acabe com qualquer esperança.
Elimine qualquer vontade.
Saqueia tudo de mim.
Assim quem sabe não acredite mais.
Em mais nada.

Hoje depois de tudo eu me vejo.
Olho meu reflexo no espelho.
Cicatrizes serpenteiam à deriva.
E mesmo sabendo que não posso.
Não devo.
Não quero.

Continuo a acreditar.

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J’amour

sábado, 22 de maio de 2010

DIZ QUE É MENTIRA


Diz amor, que é mentira a mentira que hoje pressinto nos lábios que me beijam,

e misturam fel ao desejo em minha boca.

Diz que tua sinceridade não é fingida, que não és tu que lentamente despejas

flores do mais fino sal bretão na minha ferida.

Que não destilaste o aroma da rosa negra, que hoje qual veneno lentamente me domina.

Diz amor, que tuas juras são sagradas, que tua alma é pura inda que magoada.

Que teus olhos não são fingidos ao refletirem os meus, agora confusos de dor.

Diz p'rá mim qual parte da tua armadura de sonhos é real.

Diz que o último dragão já está morto.

Que o último reinado está posto.

Que os gigantes são moinhos.

Diz que a princesa já casou.

Diz que sou amor e não brinquedo.

Que me queres veramente além da vida.

Diz amor...

Que nossos sonhos apesar de sonhos são reais.

Diz que não sou o seu segredo.

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Meias verdades, sempre continuarão a ser mentiras.
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J'amour