E quando eu acordar...
Você poderá ter roubado todos os meu sonhos.
Mas jamais quebrará o meu espírito!
.
J'amour
(Fiat justitia ruat caelum).
Meu coração valente
não é tão intrépido
que ofereça risco
na investida que faz.
Se estou contigo,
ora seduzindo,
ora seduzida, é
porque os papéis
eu troco graciosamente.
Troco olhares,
me viro do avesso
e me desvelo.
Tudo sabes
do meu passado,
dos meus horrores
e da minha doçura
guardada a sete chaves.
Do meu amor que é chama lenta
ao contrário dos movimentos
bruscos que ameaço.
Ouves, criticas,
te enraiveces...
Mas quando me acolhes
quebras todas as trancas
e o meu castelo é teu.
Dou-te livre entrada
e livre arbítrio.
E espero que fiques
sem jogos, sem truques,
sem meias-palavras,
mesmo que não gostes
de todas as faces de mim.
Tua necessidade da verdade,
qual a minha,
nos envolve num céu
estrelado e aberto
cujos mistérios
não são armadilhas, mas sim
estrelas a serem descobertas.
E quando dás um nome
a cada novo astro,
batizas a minha vontade
de estar contigo.
E quando entendes
as minhas lágrimas vertidas
por mais que em vão,
ganhas o meu sorriso
cada vez mais luminoso.
Sou a rainha das bobagens,
das tempestades em copos d'água.
E tu és o que verte
a minha impertinência.
O que me vê do outro lado do espelho,
rasga o meu desassossego
e esfrega em minha cara
a senha da felicidade
sem artimanhas
que às vezes eu cismo
em complicar.
E quando pareço fraca
vencida por lanças envenenadas
arrancas as setas
aplicas o antídoto,
e me enches de coragem.
Não me emprestas a tua valentia,
mas me lembras da minha.
Somos dois seres
crescendo.
Lado a lado.
Inteiros.
Íntegros
Integrados...
.
J’amour
FELIZ DIA DOS NAMORADOS!
Todo dia.
Hoje decidi, que decidi te esquecer.
Mas como posso, se tudo me lembra você?
A casa sente falta dos seus passos e até o espelho não quer mais refletir.
A cama vazia dobrou seus espaços, me negando o doce esquecimento de dormir.
Insiste em lembrar-me a cada momento, seus braços, onde repousava meu amor e meus cansaços.
Mas entenda bem, hoje eu decidi que decidi te esquecer.
Escuta?
O silencio grita o teu riso, e ecoam ainda nas paredes, teus gemidos de prazer.
Sala, quarto, cozinha, cada canto que era nosso, e até a velha poltrona onde lias, hoje se encolhem aos meus olhos opacos, por não mais te ver.
O cinzeiro vazio, parado, parece exalar a fumaça do cigarro, que antes eu insistia em impedir.
Agora, cruel ironia, fico olhando fascinada e o toco lentamente, como se fosse sagrado o que antes nada valia.
Sinto nos lençóis lavados o teu cheiro almiscarado, como se em minha pele para sempre tivesses ficado.
Marcada.
Tatuada com tinta invisível, enquanto desenhavas meus contornos com dedos de artista.
Mas agora vês?
Hoje decidi, que decidi te esquecer.
J’amour
Olha-me por dentro.
Despe-me.
Sou só uma imensa ferida.
Carne viva, me falta tempo para cicatrizar.
Olha-me sem medo.
Verás apenas uma alma a sangrar.
Corta-me com a fria lâmina do punhal.
Sou apenas mais uma. Mais um corpo.
E agora que estou aberta serve-te à vontade.
Degusta meus desejos.
Arranca meus sonhos.
Acabe com qualquer esperança.
Elimine qualquer vontade.
Saqueia tudo de mim.
Assim quem sabe não acredite mais.
Em mais nada.
Hoje depois de tudo eu me vejo.
Olho meu reflexo no espelho.
Cicatrizes serpenteiam à deriva.
E mesmo sabendo que não posso.
Não devo.
Não quero.
Continuo a acreditar.
.
J’amour
Diz amor, que é mentira a mentira que hoje pressinto nos lábios que me beijam,
e misturam fel ao desejo em minha boca.
Diz que tua sinceridade não é fingida, que não és tu que lentamente despejas
flores do mais fino sal bretão na minha ferida.
Que não destilaste o aroma da rosa negra, que hoje qual veneno lentamente me domina.
Diz amor, que tuas juras são sagradas, que tua alma é pura inda que magoada.
Que teus olhos não são fingidos ao refletirem os meus, agora confusos de dor.
Diz p'rá mim qual parte da tua armadura de sonhos é real.
Diz que o último dragão
Que o último reinado está posto.
Que os gigantes são moinhos.
Diz que a
Diz que sou amor e não brinquedo.
Que me queres veramente além da vida.
Diz amor...
Que nossos sonhos apesar de sonhos são reais.
Diz que não sou o seu segredo.
.
Em que sol te escondestes do mundo?
Qual a roupagem que usas, que cara mostras agora?
Para onde foi aquele que trazia brilho aos meus olhos?
Trago dentro de mim a certeza de que já não existes sob essa forma.
Mas a alma insiste em guardar-te no coração exatamente assim.
Aqui estou e ficarei sempre a tua espera.
Forte mulher frágil, alma num corpo, que se rebela.
Que caminha sem direção entre campos de flores de papel.
Descoloridas, despetaladas, desintegradas.
Perdida à procura de um sinal, de um afago, do regresso.
Meu, teu, de todos.
Mas é certo:
Ninguém pode me trazer de volta também sem meu desejo,
embora permaneça.
O vento da noite chuvosa toca meu rosto, levanta meus cabelos.
Fecho os olhos e giro numa suave dança, mas não saio do lugar.
Percebo que quando nos ausentamos da vida, a alma não consegue voltar ainda que o sangue pulse nas veias.
E nem o cansaço vence a falta, porque existem dores tão agudas e secretas,
que as levamos além do sono, além dos sonhos.
.
J’amour
Deus, se puder ainda te pedir, eu quero apenas um gato preto
Ronronante e barrigudo
Que espreguice no meu colo
A me fitar com seus imensos olhos
Cor de folha seca em início de outono
Um gato velho e sem dono
Que aqueça-me do frio da ausência do amor
Enquanto me embalo na velha cadeira de balanço da varanda
Enquanto embalo os meus sonhos
Vou olhá-los um a um
Até me perder nas lembranças do tempo traiçoeiro
Lembrar das rosas do jardim
Dos ramos da hortelã dançando roçados pelo vento
Do cheiro de café que tu fazias
Das músicas que guardavas
Todos os sonhos que tive contigo
E que levasses quando me alijastes da tua vida
Ao me dizer adeus sem despedida
Entende?
Suportaria perder-te amor, para Deus, se fosse chegada a hora
Mas agora jamais conseguirei viver um dia sequer
Sem ter você ao me lado
.
Da vida agora eu quero apenas um gato preto preguiçoso
.
J’amour
Olha-me nesta hora sublime, onde todas as horas se fundem.
Segura minha mão entre a tua, e atravessa comigo a noite.
Convido-te a seguir para o outro lado do mundo, atravessando o véu.
Vamos para onde o tempo fica suspenso entre nossas pupilas.
Brincaremos com a realidade, deslizando-a entre nossos dedos.
Fundiremos nossos corpos.
Com força. Com amor. Com paixão.
O desejo a guiar nossas bocas, entre gemidos.
A moldar nossas peles, entre enlaços e abraços.
E depois do amor, amor, inventa palavras para sussurrar nos meus ouvidos. Fala-me quando eu não conseguir dormir, fazendo cócegas na minha alma.
E aquecendo meu corpo outra vez, fazendo-me tremer entre teus braços.
Deixa-te seduzir por esta sintonia que exala dos nossos poros.
Esta magia entre nossas almas, que ofusca a mais brilhante estrela.
E que nos invade sempre que estamos perto um do outro.
Vem, meu amor...Agora.
.
J'amour
Algumas vezes
bato a tua porta
de forma escandalosa,
despudoradamente,
com a alma exposta
e o coração a saltar dos olhos.
Quero que saibas
que não me importa
que nem sempre te encontre
quando te busco.
Me basta a crua certeza
de que sempre vens
antes que a tua falta
se torne insuportável.
Mas ah, se tu não vens AMOR...
.
J'amour
Poderia amar-te, mesmo que não existisse o amor.
Inventaria em mim a sua essência.
O beijo, a água do banho, a toalha, a cama.
Seria eu, somente para ti especial.
A querer-te meu para sempre...
DIZER AMAR-TE, ENTÃO, COM 'TE AMO'.
Ou quem sabe, posso ser criadora de nada.
Apenas amante.
Voltar meus olhos somente ao teu corpo.
Deslizar nele minhas mãos.
Me enredar entre tuas pernas, e então...
Então esquecer.
Até quando?
...Até que...?
Até você me perder!
.
J'amour
Nem percebia que te amava
Mas quando me olhava
Via cometas rasgando o céu.
Nem sabia que te queria
Mas quando partias, seguiam contigo
Meus mais loucos segredos
Presos feito estrelas nos teus cabelos.
Nunca achei que te lembraria
Mas quando te recordava
Perfazia teus passos
Para o caminho de mim mesma.
Nunca percebi que te desejava
Mas quando falavas
Bebia de ti a goles lentos
Tua voz que me embriagava.
A cada ausência tua
Me distraía sem saber que sofria
Destruindo uma a uma
Todas as minhas poesias.
Não, não sabia nada disso
Descobri tarde demais
Já perdida entre os dedos
Da mão que segura o tempo.
E o tempo não me esperou...
.
J’amour